Roberto Pisani Marinho, brasileiro, casado, jornalista, empresário, atleta hípico e automobilista, pai, órfão de pai desde a tenra idade, membro da Academia Brasileira de Letras e, portanto, tido como imortal, mais conhecido e qualificado como o proprietário da Rede Globo de televisão, a joia da coroa de um conglomerado imperial de veículos de comunicação.

Eis a maneira multifacetada como foi biografado o “Dr. Roberto” em documentário televisivo a que assisti dia desses e que me trouxe perspectivas outras desta personalidade indissociável da cultura brasileira como a conhecemos, pela influência iniciada no século passado e de resultados até hoje ululantes.
Clamorosa, ou ocultamente, na minha parca opinião, o brasileiro mais poderoso durante décadas, ao passo que teve ao seu comando todos os presidentes da República após Vargas (Dr. Getúlio jamais se dobrou, como sabido), políticos e dirigentes de toda a grandeza, a quem seduzia com a possibilidade da notoriedade, ou fazia temer com a alcunhada “Sibéria global”, anonimato reservado aos que não seguiam seus desígnios. Pior que a gélida indiferença, só as nefastas oposições que depauperaram nomes e reputações quando deflagrado um ataque das organizações que ele comandava.
OPINIÃO: Todos juntos, reunidos
Lembro-me bem de que era moda em certo momento atacar a Globo, e a figura de seu comandante personificava a vilania culpada por toda a desgraça nacional, sobremaneira a ignorância e a frugalidade da população.
Não sei, francamente, se era tão verdade assim, ou se os malefícios imputados ao poderio absoluto da época geraram efeitos piores do que podíamos e podemos mensurar.
Mas o que me chamou a atenção, mesmo, no documento, foi a dimensão humana relatada e atestada por amigos, parentes, admiradores, inimigos, críticos, enfim, pessoas que conviveram como o homem amado e odiado.
Doutor Roberto não gritava, pois por fala calma e mansa ditava destinos de empresas e pessoas, e quando advertia ou dava uma carraspana em alguém, mais baixa ainda se tornava sua voz, ao ponto de, quanto mais inaudível, mais destemperado se mostrar. Palavrões, quando raramente dizia, o fazia em francês, jamais em português.
Impávido e gélido, mas que aos 82 anos disse ter sentido arrepios de paixão ao dançar com Dona Lili, que viria a ser sua segunda esposa logo adiante.
Bilionário, culto, respeitado, temido, audaz (empreendeu a rede de televisão já sexagenário), poderoso como ninguém mais no seu tempo.
Senil em seus derradeiros dias, na hora extrema tinha a seu lado o antigo, servil e humilde mordomo a quem pediu na iminência da morte: “me tira dessa?”.
Não foi possível. Era apenas um homem...